Mágico, esta palavra sempre nos faz lembrar de circo, palavras encantadas, coelho saindo de cartola, enfim uma profissão que encanta milhares de pessoas há muitos anos. Profissionais desta área são comuns em espetáculos, festas, mas nas palestras corporativas é algo bem diferente. Assim é o trabalho de Rafael Baltresca, 29 anos, que se tornou mágico profissional em 2001, foi campeão na categoria de invenção e aperfeiçoamento tornando-se o ilusionista mais criativo da atualidade, dono e palestrante da empresa Aula Show que utiliza a mágica para promover treinamentos a empresas.
Além disso, Rafael é formado em Engenharia Eletrônica e especializado em Programação Neurolinguística, Psicodinâmica em Negócios, Empreendorismo aplicado e também professor de cursinho universitário para os alunos de Engenharia. Foi a partir da sua profissão de engenheiro que ele começou a trilhar sua carreira de mágico, e nesta entrevista ele revela detalhes de seu trabalho e de que forma ele une as duas profissões.
Camila Dantas - Quando você começou a se interessar e fazer mágica?
Rafael Baltresca - Acho que quando eu era pequeno, uns 3 ou 4 anos e eu já ficava fascinado. Comecei a estudar no ano de 2001 quando eu soube de uma reunião de mágicos através de um e-mail, então decidi ir para ver o que aconteceria. Como eu gostava de mais, desde moleque, comecei a freqüentar este grupo.
Camila - Então não há nenhuma influência da família, alguém que era mágico em que você tenha se espelhado?
Rafael – É não tem explicação. Depois de uns 6 ou 7 anos de profissão eu fui descobrir que o tio do meu avô era mágico de navios. E agora vem a pergunta: Isso já estava no sangue ou foi uma coincidência? Não dá para saber.
Camila - Quando você começou a trabalhar com mágica profissionalmente?
Rafael - Eu divido o amadorismo do profissional quando a pessoa começa a fazer algo com uma pretensão financeira. Comigo foi uma transição porque eu sou engenheiro e na época eu tinha uma empresa de informática, e aos poucos a mágica começou a entrar. Uma pessoa começou a pedir um show aqui, outra ali e quando eu fui ver a metade da minha semana era só apresentação.
Camila - Quais são as suas referências no mundo da mágica?
Rafael - Bom, provavelmente você não conheça, pois são do exterior. Há muita gente como Lance Burton, David Copperfield e Lennart Green. O Copperfield é bom no sentido cênico e tem uma equipe boa. Há também o David Blaine que em 2001 começou a praticar o ilusionismo nas ruas.
Camila - Qual é a sua opinião sobre o mágico Mister M?
Rafael - Esse mágico é um exemplo de profissional que vende sua ética, sua moral e seus valores por dinheiro. Há isso em todas as profissões, mas nesta área é mais delicado porque o interessante é o mistério. Eu poderia lhe contar um truque, ninguém irá me prender, mas existe um código de ética muito bem definido de que a mágica é feita para encantar e ponto final. Todos os dias, inúmeros mágicos em todo o Brasil recebem propostas do meio televisivo para revelar um segredo, pois o público tem esta curiosidade, mas como já disse há uma ética e nós dizemos não. Uma rede lá dos Estados Unidos foi que chamou o Mister M para fazer uma temporada com um cachê milionário, então ele se vendeu e colocou uma máscara para não ser reconhecido. Depois de um tempo descobriram que o nome dele é Val Valentino, um profissional mal sucedido. Há apresentações com erros em coisas simples que se aprendem no começo da carreira. Percebe-se, então, que ele é ruim.
Camila - Como e porque utilizar a mágica nas palestras? De que forma ela auxilia?
Rafael - O cérebro só aprende de duas formas: por repetição ou por emoção. O seu telefone, a rua onde você mora de tanto repetir se aprende, mas esta não é tão eficaz. Onde você estava no dia 11 de setembro? Aposto que sabe. Você lembra porque a emoção ativa algumas áreas do cérebro e faz com que se retenha a informação com mais precisão. A mágica transforma um encontro formal em algo descontraído e de forma fácil e mecânica, eu consigo fabricar essas emoções. No Aula Show, eu uso o lúdico para passar uma informação com um técnico bom, para não ser uma palestra motivacional que fala um monte de coisas e nada se aprende.
Camila - Qual é o diferencial que o “Aula Show” possui em relação a outras empresas de palestras corporativas?
Rafael - O primeiro é a mágica. O segundo eu não sei se posso tratar como diferencial, mas é a seriedade com que eu trato tudo isso. O engenheiro possui tudo numa fórmula e a minha palestra também. Tudo que falo deve ter começo, meio e fim, assim como ter um resultado oferecendo ferramentas para as pessoas praticarem no seu dia a dia.
Camila - Você possui alguma equipe para realizar este trabalho?
Rafael - A equipe é formada por 15 pessoas. Eu sou o faxineiro, o telefonista, contas a pagar, faço tudo. Brincadeira. Na empresa sou eu e minha secretária, mas existem alguns colegas do mundo da mágica que quando precisamos nos dão suporte.
Camila - Você foi considerado um dos mágicos mais criativos da atualidade este ano. Por quê?
Rafael - Faz tempo que eu tenho treinado para participar do segundo maior congresso de mágicos do mundo chamado Flasoma (Federação Latino Americana e Sociedades Mágicas), no qual o Brasil, Uruguai, Argentina e México fazem parte. Então pensei em usar algo que criei, pois ninguém ia rir e nem falar. Fui com uma expectativa enorme e não estava nervoso porque não tinha o que dar errado, eu fazia isso há um bom tempo. E deu certo, ganhei o 1° lugar na categoria Invenção e Aperfeiçoamento. Ganhar nesta área é muito complicado porque você é obrigado a mostrar algo novo, diferente. Foi ótimo, surgiram até convites para outros congressos em Portugal e Colômbia que serão realizados no mês de setembro deste ano.
Camila - O que te levou a criar mágica?
Rafael - O Brasil infelizmente não possui muito histórico em criação. Parecia-me ser legal inventar, então fiz uma coisa aqui e outra ali, como uma técnica com canetas e lancei um vídeo. Este DVD foi para os Estados Unidos, Argentina e França e vendeu mais de 800 cópias. Comecei a criar e fui chamado para convenções de mágicas e entrevistas. Já visitei a Argentina e o Peru duas vezes, o Brasil todo e irei a Portugal e a Colômbia em setembro. Quando fazemos algo novo e mostramos que podemos ser diferentes, nós somos relembrados.
Camila - Você além de administrar e promover palestras e shows, da aula. Como é este trabalho?
Rafael - Faz 10 anos que dou aula de reforço para uma escola de engenharia chamada Mauá em São Caetano. Comecei no ano de 1999 e estou até hoje. Estas aulas acontecem em épocas de provas e sou chamado para dar de 4 a 5 aulas. Lá eu falo de engenharia com mágica também.
Camila - Como anda o mercado de trabalho para mágicos no Brasil?
Rafael - Bom, nós passamos por uns meses de crise não só na nossa área como em todos os outros mercados. O brasileiro ficou um pouco receoso de investir num treinamento ou em um show. Ficamos, então, para trás, mas graças a Deus o mercado está aquecendo novamente. A mágica no Brasil ainda é vista de forma preconceituosa, pois quando se fala em mágico muitos já pensam em festa de aniversário infantil. Eu mesmo não faço mágicas para criança. Há várias áreas de atuação para o profissional como a corporativa, adulto e infantil e o mercado de palestras está crescendo, mas é delicado porque tem que ter conteúdo, ser dinâmico, algo novo. A pessoa deve sair do local com uma carga maior de conhecimento para a sua vida, não simplesmente para se divertir. A minha preocupação é com a informação e o lúdico está aí para dar suporte ao que falo.
Camila - Há vários estilos de se fazer mágica. Qual é o seu?
Rafael - Meu estilo é a cômica. Eu não gosto de fazer mágicas muito sérias que as pessoas ficam até com medo. Gosto muito quando da algo errado no show porque o mágico cômico tem este privilégio, pois se tudo der errado, melhor para ele.
Camila - O que você indica para pessoas que querem entrar no mundo da mágica?
Rafael - Há poucos livros em português, tem muito mais DVD. Eu mesmo tenho 7 lançados para iniciantes que fazem parte da coleção Aprenda Mágicas Alucinantes. Dá para aprender bastante, mas há de ter muita paciência e tempo porque requer um nível exaustivo de treino. Deve-se buscar ajuda de um profissional, ir a congressos e fazer alguns cursos, nós até iremos lançar um daqui a alguns meses.