quinta-feira, 22 de outubro de 2009

De Braços Abertos

Eis o formigueiro humano. Atravessam cruzamentos, lotam esquinas, pegam ônibus lotado, e muitas vezes causam confusões no trânsito. São "formigas" solitárias, perdidas no próprio pensamento ou em grupos, que riem, conversam, falam alto, atendem o celular e esbarram em quem for por conta da pressa. Você, caro leitor, pode perceber que não há necessidade de falar o nome do lugar que descrevo. Mas digo. Ah, São Paulo, terra da garoa, de povo trabalhador, altamente cultural, fruto de uma miscigenação inacreditável, mas com lembranças ou de fatos presentes que fundem entre o asfalto, sangue  e lágrimas.

Tenho poucos anos vívidos nesta cidade, mas o bastante para perceber as maravilhas e tristezas deste lugar. Lembro-me dos altos passeios em que eu e meu pai dávamos, quando mais nova, nos finais de semana. Íamos muito ao parque da Água Branca, andar de trenzinho, de pônei, brincar no parquinho, e na saída sempre comprávamos o balão de gás hélio, que dificilmente eu chegava em casa com ele, porque sempre acabava soltando-o pelo céu da Av. Matarazzo. Como eu gostava disso. Devo essa felicidade ao fato do ciúmes que eu tinha entre meu irmão recém nascido e meu pai.


Quem não tem registros fotográficos ou lembranças embutidas em cenas cotidianas nesta cidade? Passear pelos belos parques, como por exemplo o Ibirapuera. Desfrutar de uma diversidade culinária incrível, pois você pode começar o dia com uma tapioca e um copo de café, almoçar um virado a paulista e na janta uma pizza. Ir a um shopping center qualquer simplesmente para admirar as futilidades, muitas vezes fora do orçamento, e fechar o dia com um lanche do MC Donald’s.


Passar no MC era como sonhar acordado. Lá vinha minha mãe com o MC Lanche Feliz, no qual eu só queria o brinquedo. “Droga”. Muitas vezes era expressão que eu usava quando o brinquedo não era o que eu queria ou igual da TV.


Infelizmente, aquele lugar não era só sonho, mas também um pesadelo. Crianças de rua na porta pediam dinheiro, um lanche, um carinho, atenção. São coadjuvantes de uma cena com tantos protagonistas que só esbanjam dinheiro, seres que fazem parte da paisagem do nosso centro e bairros com traços de humanidade retirados pela sociedade. Tudo bem, naquela época eu não tinha ciência e nem um olhar crítico para estas coisas, mas lembro-me muito bem e fatos estes se repetem todos os dias.


Mas eita cidade imprevisível. Quem é que sabe o tempo no dia seguinte neste lugar? Amanhece com um sol lindo e um calor de “matar”, a tarde chove e a noite esfria. O jeito é sair com uma mala cheio de opções ou empacotado de roupa, e ao longo do dia, fazer um verdadeiro striptease. Ah, São Paulo. Mesmo com tantos problemas deixa saudade e boas lembranças àqueles que vêem visitá-la. Cidade que não tem o Cristo Redentor, mas está sempre de braços abertos a todos.

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